domingo, 20 de outubro de 2013

Crescimento no Sistema Cooperativo do Brasil

“Apenas quando somos instruídos pela realidade é que podemos mudá-la.” (Bertolt Brecht) 

     O desempenho comparativo do conjunto das instituições financeiras cooperativas versus o do consolidado da indústria bancária, tendo como referência a evolução no período de junho 2012 a junho de 2013, revela-se animador em alguns fundamentos e nem tanto em outros, conforme evidencia o quadro a seguir:



     Destaque já há algum tempo, os depósitos novamente tiveram uma performance bem superior no sistema financeiro cooperativo (SFC), expandindo-se 15,5% contra 3,5% do sistema financeiro nacional (SFN). Ao estendermos o histórico da amostra, considerando o intervalo de 2008 a 2012 (dados de final de período), veremos um crescimento de 183,3% no SFC contra 58,5% no SFN. Entre as principais razões desse dilatado placar estão o incremento de renda gerado pela atividade agroindustrial, com cujos atores as cooperativas, em grande medida, mantêm forte vínculo; a ampliação do número de associados e os reflexos do portfólio de negócios ampliado, e, por fim, o aumento da confiança da sociedade nessas entidades decorrente, em especial, do aprimoramento de sua governança.

     Merecem alusão, também, os bons indicadores do patrimônio líquido (evolução de 19% contra 1,2%) e das receitas de prestação de serviços e tarifas (20,1% contra 10,4%). No caso do patrimônio líquido, como se sabe, o desempenho do sistema bancário convencional foi afetado por problemas pontuais – e relevantes – de inadimplência (causadora de provisão), enquanto que no fundamento da prestação de serviços há que se atribuir o mérito ao trabalho mais dedicado das cooperativas com produtos fora da intermediação financeira (soluções complementares).

     Quanto à carteira de crédito, embora a diferença não seja tão expressiva (22,2% contra 17,5%), vale lembrar que os bancos têm sua performance alavancada pelas instituições oficiais, que nesse período ainda tiveram forte protagonismo no financiamento ao consumo, política esta que parece estar sendo revista mais recentemente, uma vez que o novo foco do governo passam a ser os investimentos.
     Por fim, uma referência toda especial à expansão do quadro social (19,3% contra 10,5% de novos clientes no SFN), sem dúvida atribuível às aberturas estatutárias que vêm permitindo o acesso de novos públicos, e também à maior familiaridade (traduzida em confiança) da sociedade com o empreendimento cooperativo e seus diferenciais.

 E o que não anda tão bem!? 

      Dois aspectos, nesse particular, sobressaem: o aumento das despesas administrativas, fortemente descolado do mercado bancário (14,6% contra 8,3%), e o resultado (sobras) bastante aquém do ostentado pela indústria financeira tradicional (7% diante de 17,6%).
 No primeiro caso, uma das variáveis – sem que se examine o seu mérito ou demérito – pode ser o incremento do quadro de pessoal (23,2% – índice acima de todos os indicadores positivos ora comentados – contra uma retração de 0,7% no SFN), embora não necessariamente como elemento único da equação. Quanto ao resultado (“última linha do balanço”), dado a íntima relação com o nível de eficiência empresarial, a causa tem tudo a ver com a combinação (virtuosa ou não) entre despesas administrativas e receitas operacionais/margem de contribuição (quanto maior a prevalência destas sobre aquelas, melhor). E como nos apresentamos nesse fundamento!? Não muito bem! Tomando por referência os números dos principais subsistemas cooperativos, o índice médio de eficiência situa-se ao redor de 56%, ao passo que dos cinco maiores bancos do país nenhum não ultrapassa aos 46%, com destaque ao Bradesco, com 42% (dados de dezembro de 2012). Há de considerar-se, adicionalmente, que as cooperativas, tendo em vista as suas particularidades societárias, fazem jus a tratamento tributário diferenciado/mais benéfico na comparação com os bancos, circunstância que torna ainda mais desafiador o trabalho a ser feito para atingir o patamar ideal de produtividade.

      A solução nesse caso, recorrentemente anunciada e traduzida em medidas de sustentabilidade, passa por i) uma boa gestão da matriz de custeio e de investimentos, o que inclui a revisitação da alocação de atividades e do formato da inversão de recursos nos diferentes níveis sistêmicos e intersistemicamente (quanto mais verticalizadas/agrupadas as atividades e os investimentos destinados ao apoio ao negócio, melhor), e ii) pela ampliação das receitas com prestação de serviços, iniciando pela fidelização dos associados (entre estes, dando o exemplo, conselheiros, diretores e funcionários das cooperativas e de suas entidades sistêmicas) que mantêm dupla militância no relacionamento bancário/financeiro.

 Simples assim!

Ênio Meinen é advogado, pós-graduado em direito e em gestão estratégica de pessoas e autor de vários livros sobre cooperativismo de crédito – área na qual atua há 30 anos -, entre eles “O cooperativismo de crédito ontem, hoje e amanhã”. Atualmente, é diretor de operações do Banco Cooperativo do Brasil (Bancoob).

 Postado por: Nilton Silveira

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